domingo, 15 de novembro de 2009

PE. OSIEL. O PADRE QUE VIVEU DEZ MESES NO INFERNO EM GOIÁS

Padre Osiel Santos. O padre que foi escravo no inferno em Goiás.
No dia 26 de novembro de 26 novembro de 1960, deixei a minha cidade de São Gabriel de Irecê- Bahia em um pau de arara (caminhão coberto com lonas), 40 pessoas entre crianças, jovens e adultos, chegamos ao destino em 30 de novembro ás 24 horas. Fazenda Santa Terezinha do Sr. Ubirajara Di Ramos Caiado. Ao chegarmos fomos bem recebidos pelo o gerente Paulo Leite, porém em nossos alojamentos fomos recepcionados pelos os jagunços que nos colocaram em um cômodo chamado chatão e trancaram a porta por fora com cadeado como era de costume para que os pinhões não fugissem. Em meu belo apartamento fui muito bem recebido pelos os jovens, Juvenal conhecidos por Valdemar e Nelson ambos acorrentados pelos os tornozelos por tentativa de fuga, castigo dados a todos que tentasse fugir antes do prazo combinado. Os solteiros teriam que ficar dez meses e os casados dois anos, ai daqueles que tentasse sair da fazenda do prazo. Os escravos fujões eram caçados como animais pelos os jagunços, se o encontrasse e resistisse à prisão seriam mortos ali mesmo, se capturados regressaria á fazenda, iam para o tronco, eram torturados, apanhavam com palmatória nas mãos e nos pés em seguida faziam limpeza dos córregos da fazenda apenas com as mãos, como forma de castigo. Outro castigo seria arrancar malvas e outras ervas com as mãos escorrendo sangue. Os condenados não podiam ficar de pé por causa dos calos da palmatória. Não podiam colocar as mãos no chão pelo o mesmo motivo, então tinha que andar de quatro. Outro castigo que presenciei foi o banho de água fria de madrugada, pois neste tempo lá fazia muito frio. Eu vi a morte de perto, no dia seguinte quando os jagunços foram pegas os meus colegas de quarto para o castigo, eu mesmo sendo criança achei que a vida na tinha sentido fiz minhas orações a Santa Mãe de Deus deixei um recadinho para minha mãe em um simples caderninho de anotações que dizia o seguinte: Querida mamãe, perdoa-me não posso cumprir o meu trato que fiz com a senhora de mandar dinheiro todos os meses para matar a fome da senhora e de meus seis irmãos, pois acho que minha viagem está chegando ao fim.Coloquei o bilhete dentro da botina do Cícero sem ele perceber pois sabia que no outro dia ao calçar ele o encontraria e pedia alguém para ler. Pois ele não sabia ler. Amolei bastante a minha faca e escondido atrás da porta esperei o momento em que jagunços viesse pegar os piões para o castigo rotineiro, lá pelas três horas da manhã chegaram os dois jagunços eu os enfrentei, eles parecem que tiveram pena de mim ou foi por intervenção de Nossa Senhora, minha protetora, voltaram e foram falar com o gerente Paulo Leite, o gerente um homem bravo, mais muito honesto ficou desesperando e ordenou que logo alvorecer me trocasse de quarto. No dia seguinte fui mudado para o quarto do amigo Cícero e passado o pesadelo quando Cícero foi calçar a botina eu já tinha pegado o bilhete, ninguém ficou sabendo de nada, mesmo porque não podia. Desde deste dia fiquei sendo protegido pelo gerente da fazenda, seu irmão Antonio Leite, o gato que foi nos buscar na Bahia e até mesmo o velho Ubirajara que gostava de brincar comigo para me deixar zangado. Quando o gato chegava ao nordeste, ele pagava as contas dos trabalhadores e ainda adiantava dinheiro para deixar com a família. Muitos pegavam mais dinheiro e demorava pagar por isso tentava fugir sem pagar a conta, mas aqueles mais controlados como eu e outros, mesmo o salário sendo menos da metade do que pagavam os outros fazendeiros conseguia e nada de ruim acontecia. Os trabalhadores que fugiam para a fazenda do Didi Caiado eram protegidos, pois seu filho Didi era muito justo. Dona Terezinha esposa do velho e sua filha adotiva eram admiradas pelos os trabalhadores. Apesar de tanto erros o velho não gostava que pinhões com esse mal, ele era muito coerente com a comida tinha muita fartura e o que fosse combinado ele pagaria corretamente. Eu saí com saúde ainda mandava dinheiro para mãe todos os meses, foi um verdadeiro milagre. Foi nesse inferno que nasceu minha vocação e sei que muitas mães nordestinas aguardam até hoje o regresso de seus filhos que foram enterrados nas beiras dos córregos e no meio dos cafezais. Hoje eu agradeço a Deus por está vivo, mas sempre ouvindo os gritos dos oprimidos. No meio do fogo do inferno aprendi pisar em brasa e não se queimar e no murmúrio das águas gelada do córrego da fazenda assentado em uma grande pedra coberta de neves ao alvorecer escrevi a minha primeira poesia: “Um sonho de Criança”.

Um comentário:

  1. Padre,

    Acredito que ser a "Fazenda dos Caiado" entre Sta Barbara / Araçu / Inhumas.
    Tenho alguns relatos também que gostaria de compartilhar.

    roberto.rezende@terral.com.br

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